Gertrude é minha vizinha desde que nasci. Ela me visita todos os dias. Traz-me pão quente, café fresco e um doce da fazenda. Eu pergunto como ela está, ela sempre responde “assim-assim”. Começa a falar de mim, de como se lembrou de mim quando estava no mercado, ou no posto de gasolina, ou na casa de sua família.
Em seguida, a conversa muda de rumo e termina com ela me dizendo que eu tenho que cair na real, virar uma pessoa de verdade, que claramente eu não sou. Eu concordo, pois tenho estes pensamentos eu mesmo. Despeço-me dela, e a esta altura ela está me chamando de nomes feios. Sorrio. É apenas minha amiga Gertrude.
À noite, eu e mais outros cinco moradores da vizinhança nos reunimos para comer carne podre e uivar para a lua.
Quando Gertrude se for, não terei mais minha companhia das manhãs. Terei eu mesmo que comprar pão, passar o café e ir à fazenda buscar doces. Encontrarei outra pessoa, talvez a moça que vive duas casas acima de mim que sempre tem alguma ideia errada na cabeça. Conversaremos. Direi que estou “assim-assim”.
E assim prosseguirá até que o mundo inteiro se torne Gertrude.