Há um quarto escuro que está lá há tanto tempo que as pessoas já não se importam em apontá-lo. Se você entrar nele, verá as formas escuras assumindo cores distintas. Se você ficar por lá por tempo suficiente, verá que elas não podem te tocar, senão por dentro. Como no mito de Platão, você retorna do quarto fascinado e diz para os outros o que viu.
Imaginar dia após dia e colocar a imaginação no papel é como ficar na porta do quarto escuro, com a mão estendida, esperando alguém que confie em você e agarre sua mão e entre no quarto. Não será o seu quarto ou o quarto de outra pessoa, mas um lugar que você encontrou, sem dono. Está ali.
O que parecia ser uma parede se transforma numa porta. Além dela há uma escada. Um vento frio sopra de lá. Há um ponto de luz ao final. Você leva seu convidado pela mão, tentando fingir que tem certeza do caminho. Alcançam um ponto onde a escada termina abruptamente. Há um abismo. Você olha para o seu convidado e diz: “pule”. Se tiver confiança o suficiente, você o empurra. Você só não pode deixar que ele corra para fora do quarto e de volta ao mundo como ele é.
A imaginação é o gato da casa. Pode muito bem dormir o dia todo e acordar à noite e correr, caçando uma presa invisível. Não gosta de ser apanhado à força. Mas hoje é dia de banho, então você fecha as janelas e o puxa pelo rabo se preciso. Ou então você descobre aquela coisa que ergue suas orelhas, como um pedaço de barbante, um saco ou uma caixa de papelão vazia.
Às vezes, você está só diante do abismo depois da escada. Ninguém ao seu lado para compartilhar daquelas formas que dançam do outro lado, comentar como é bom vê-las se formando e se diluindo na escuridão. Mas você está lá de novo. Pule.