Foi-se o tempo em que um blog com palavras escritas era alguma coisa que valesse a pena fazer. Antes que as revistas impressas se tornassem objetos de museu, o blog já se deslocava para as margens da atenção pública. Então, alguém como eu, que gosta de publicar palavras num website, tem que quebrar a cabeça para encaixá-las numa imagem quadrada, ou numa sequência de imagens com uma música de fundo.
Mas o cerco fechou. Os mares digitais foram singrados e suas terras divididas e batizadas com nomes de reis. Não há adaptação ao mundo da internet que possa competir com pessoas que sabem o que as outras pessoas desejam ouvir. Eu não sei o que os outros querem ouvir. Escrevo mil palavras com a esperança de que uma delas faça sentido para alguém.
A exclusão digital – não aquela oriunda da falta de acesso ou domínio da tecnologia, mas por oferta e demanda – trouxe uma possibilidade nova, que remete aos primórdios do universo digital: ser o governante absoluto de seu próprio espaço, onde a lei é sua própria palavra. Como uma pessoa exilada para o ermo que descobre que, ali, ela reina sem oposições.
Esta descoberta durará pouco. Num ambiente fluido como este, só resta duas saídas para o blog: ficar obsoleto de maneira definitiva, ou ser invadido por uma segunda onda de atenção para o underground da internet, que por sua vez cairá nas mãos daquelas mesmas pessoas que sabem o que as outras pessoas desejam ler. Se o último acontecer, recorreremos às cartas, ou aos bancos das praças.
Enquanto nenhum destes cenários improváveis ocorre, limito-me a me felicitar pelo renascimento deste blog. Ainda existem terras não desbravadas, creio.