Na minha família, só se dirige carros brancos. Meu pai me ensinou que carros brancos são mais baratos. Quando passeávamos aos fins de semana ele sempre comentava o quão esbanjadoras eram essas pessoas com carros vermelhos, pretos e azul-pérola. Não sabiam o valor do dinheiro. Provavelmente eram filhinhos-de-papai, acostumados à vida boa.
Entrei na universidade. Conheci pessoas que tinham ideias interessantes sobre as coisas. Muitas delas usavam camisetas verdes. As meninas pintavam as unhas de verde. Saíam para a rua com bandeiras verdes. Verde era a cor de suas ideias. Todos que tinham carro tinham carros verdes. Achei aquilo muito lindo. Adotei as ideias e adotei o verde.
Quando comecei a ganhar dinheiro, resolvi comprar um carro. Vestido em minha camiseta verde, fui à concessionária. Disse que queria um carro que fosse branco e verde. Branco, porque era coisa de gente séria. Verde, porque era a cor das minhas ideias. O vendedor ficou confuso. Tinha carros brancos, carros verdes, mas nenhum branco e verde.
Um amigo me deu a ideia de comprar um carro branco e pintar metade dele de verde. Fiz como sugerido. Mas me senti estranho. O carro estava muito pouco verde. Fui pintando e pintando até que o branco sumisse. Me senti como um filhinho-de-papai. Pintei a metade de branco. E neste ciclo eu me mantive, até estragar a lataria de tanta mão de tinta.
A pé pelas ruas, olho para os motoristas e me lamento por não haver nenhum carro bom nesta cidade. Talvez num país distante eles tenham carros que sejam, ao mesmo tempo, brancos e verdes.